Em Inhaúma, apenas nove dos 16 coveiros trabalharam nesta quinta-feira
Domingos Peixoto
RIO - Não bastasse a dor de perder a mãe, Jaqueline Coutinho, de 39 anos, ainda teve de amargar 30 horas de espera até que o cortejo fúnebre saísse de uma das capelas do Cemitério de Irajá. A peregrinação começou quando o corpo foi liberado pelo hospital, no início da manhã de quarta-feira, e ela soube pelo agente funerário que não havia local para sepultamento devido à greve dos coveiros.
— Não conseguíamos vaga em cemitério e tive que esperar mais de 24 horas para sepultar minha mãe. A família estava sofrendo e ainda tivemos esse problema. Vou processar a Santa Casa — disse.
Em Irajá, com os salários ainda atrasados, os coveiros que têm carteira assinada continuavam de braços cruzados nesta quinta-feira. Apenas os cinco profissionais que trabalham sem registro e, por isso, recebem o salário semanalmente fizeram sepultamentos. De 30 enterros diários, nesta quinta só foram realizados 12.
Funcionário informal em Irajá há 12 anos, o coveiro Adilson Silva, de 45, contou que só recebe seus R$ 205 semanais porque não tem carteira assinada e tampouco qualquer comprovante de pagamento. Ele disse que já entrou na Justiça e ganhou o direito de receber os benefícios garantidos por lei. Segundo Adilson, nesta quinta os coveiros sem registro de Irajá só fizeram sepultamentos em jazigos perpétuos:
— Não estamos abrindo covas nem enterrando em gavetas. Enterro aqui em Irajá, somente em jazigos.
Bico limpando sepulturas
No Cemitério de Inhaúma, onde diariamente são feitos de 25 a 30 sepultamentos, foram apenas 12. Emilson de Oliveira, que foi lá para o enterro de sua mãe, disse que somente conseguiu uma vaga porque um vereador intercedera por ele.
— Eu queria enterrar minha mãe em uma gaveta, mas disseram que só daqui a dois dias. Pedi a um vereador, que conseguiu aqui em Inhaúma o enterro para minhã mãe em uma cova rasa. Se não fosse por ele, estava sem poder sepultar minha mãe até agora. No cartório onde fui registrar o óbito, vi pessoas que estão esperando há dois dias para enterrar seus familiares — contou.
Em Inhaúma, os poucos caixões que chegavam em carros de funerárias eram observados por coveiros sentados. Funcionário da Santa Casa há duas décadas, José Gomes, de 52 anos, que ganha cerca de R$ 730 mensais, disse que está sem receber há dois meses. Para sobreviver, contou fazer bicos limpando sepulturas.
— Alguns familiares vêm aqui e nos pagam para limpar as sepulturas, e assim ganhamos uns trocados. O pagamento, não vejo há dois meses — disse.
Santa Casa promete pagar
De acordo com o administrador do cemitério, Augusto José dos Santos, dos 16 coveiros, nesta quinta-feira nove trabalharam normalmente. Ele teme que nesta sexta o número de profissionais seja menor, caso a Santa Casa não coloque os pagamentos em dia.
— Prometeram pagar hoje (quinta-feira). Se o salário não sair, temo que os coveiros não trabalhem e não possamos fazer sepultamentos — disse.
Em nota, a Santa Casa informou que os pagamentos dos funcionários seriam depositados ontem à tarde. A entidade alegou que o motivo do atraso no pagamento dos salários é a “crise financeira e crônica” que vem passando desde que foi descredenciada pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
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