domingo, 27 de abril de 2014

Lula diz que julgamento do mensalão no STF teve 80% de decisão política


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista à RTP, ao afirmar que indicou 6 ministros que julgaram o mensalão no STF (Foto: Reprodução/RTP)

 
Em uma de suas poucas manifestações públicas após o fim do julgamento do mensalão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que as decisões do Supremo Tribunal Federal no processo foram, em sua maior parte, políticas e não jurídicas. A afirmação foi feita numa entrevista realizada na última sexta (25) à TV portuguesa RTP e publicada neste domingo (27) no site da emissora.

Lula falou sobre o caso quando indagado sobre o impacto do escândalo sobre a campanha pela reeleição da presidente Dilma Rousseff e sua própria popularidade. Ele negou a existência do esquema, que segundo o STF, consistiu na compra de apoio político no Congresso no início de seu governo, entre 2003 e 2005.
 
O tempo vai se encarregar de provar, que o mensalão, você teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica [...] É apenas uma questão de tempo, e essa história vai ser recontada"
 
"O mensalão, o tempo vai se encarregar de provar, que o mensalão, você teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica", disse. "O que eu acho é que não houve mensalão. Eu também não vou ficar discutindo a decisão da Suprema Corte. Eu só acho que essa história vai ser recontada. É apenas uma questão de tempo, e essa história vai ser recontada para saber o que aconteceu na verdade", afirmou o ex-presidente.

Lula disse que embora haja "companheiros do PT presos", disse que "não se trata de gente da minha confiança". Entre os petistas presos, estão o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, todos quadros históricos do partido fundado por Lula.
 
Ele também disse que o "processo foi um massacre que visava destruir o PT, e não conseguiram". Na ação penal, Lula não foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República, que não encontrou indícios para acusá-lo de qualquer crime.
 
O PT sempre negou a existência de distribuição de dinheiro para políticos em troca de votos e alega que os pagamentos eram para honrar dívidas de campanha de partidos aliados não contabilizadas.
Deixa o povo ir para a rua, não tem nenhum problema. É um povo indo para a rua protestando e outro povo indo para a rua para ver o jogo. O que importa é que nós temos que garantir tranquilidade para os jogadores"
 
Eleições e Copa
Na entrevista, que durou quase 40 minutos, embora questionado, o ex-presidente evitou falar sobre as atuais dificuldades da presidente Dilma Rousseff no governo. Voltou a negar que será candidato do PT e demonstrou convicção de que sua sucessora será reeleita em outubro.

"Ela vai ganhar as eleições, ela vai vencer", afirmou. "Eu vou ser cabo eleitoral da Dilma, eu vou para a rua fazer campanha para a Dilma. Eu não quero cargo político".
Ele também comentou sobre a possibilidade de protestos durante a Copa do Mundo, que poderiam abalar a popularidade de Dilma, como ocorreu em junho do ano passado.
 
"Deixa o povo ir para a rua, não tem nenhum problema. É um povo indo para a rua protestando e outro povo indo para a rua para ver o jogo [...] O que importa é que nós temos que garantir tranquilidade para os jogadores. Não é em qualquer momento que a gente pode receber no Brasil um Cristiano Ronaldo, um Leonel Messi, um Neymar. Não é em qualquer momento que a gente pode receber essas figuras importantes", disse.
 
Num dos momentos em que foi mais enfático na entrevista, Lula rebateu críticas relacionadas ao custo da Copa e à deficiência do país em infraestrutura, educação e saúde que motivaram as manifestações de junho do ano passado. Ao enumerar uma série de conquistas do governo petista, explicou que o "povo quer mais".
 
"Nós não vamos conseguir em 11 e nem 15 anos resolver as mazelas e as responsabilidades de cinco séculos. O dado concreto é que nós conseguimos evoluir de maneira extraordinária", disse. Afirmou também achar "ótimo" o povo querer mais, "porque quanto mais as pessoas reivindicam, mais nós temos que fazer".
 
Para Lula, não se faz a Copa do Mundo "pensando em dinheiro", referindo-se aos gastos. "A Copa é um encontro de civilizações. É a oportunidade que o Brasil tem de mostrar sua cara, do jeito que o Brasil é, com pobreza, com tudo o que o Brasil tem, mas com beleza também. É hora de o mundo ver o Brasil como é, colocar os pés no chão do Brasil".
 
 
Economia e política internacional

 Mais da metade da entrevista focou a situação econômica de Portugal e da União Europeia, ainda em crise. Ao falar sobre a relação comercial entre o Brasil e Portugal, Lula considerou uma "vergonha" o valor das transações entre os dois países, de cerca de 2 bilhões de euros, "muito pouco", segundo ele.
 
"Eu acho que o Brasil tem que olhar com muito mais carinho para Portugal e Portugal olhar com muito mais carinho para o Brasil", afirmou o ex-presidente, que também lamentou o fato de empresários chineses, e não brasileiros, terem comprado estatais portuguesas privatizadas.
 
Questionado sobre a atual política externa brasileira, Lula negou que ela tenha deixado o "protagonismo" e uma "visão política global", como sugerido pela entrevistadora.
"A política do governo é a mesma.
 
 A Dilma tem a mesma convicção e a mesma força que eu tinha para a política internacional. Acontece que quando a Dilma assumiu a Presidência houve um fortalecimento da crise econômica", justificou, dizendo que a preocupação da presidente passou a ser mais interna.



Fonte/Renan Ramalho Do G1, em Brasília 

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