Ministro Gilmar Mendes/Supremo Tribunal Federal (STF)
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), deferiu medida liminar para suspender a eficácia da nomeação de Luiz Inácio Lula da Silva para o cargo de ministro chefe da Casa Civil, determinando a manutenção da competência da justiça de primeira instância para analisar os procedimentos criminais em seu desfavor. A decisão foi tomada nos Mandados de Segurança (MS) 34070 e 34071, impetrados no STF, respectivamente, pelo Partido Popular Socialista (PPS) e pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
As legendas alegam que o ato de nomeação pela presidente Dilma Rousseff ocorreu com desvio de finalidade, visando retirar da competência do juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba procedimento criminal contra o ex-presidente Lula, uma vez que os ministros de Estado têm prerrogativa do foro no STF.
O blog Sjnotícias teve acesso ao conteúdo da decisão do Ministro Gilmar Mendes. Veja aqui os principais trechos desse conteúdo, com a transcrição dos diálogos em conversa telefônica do ex-presidente Lula.
Principais trechos da decisão proferida pelo Ministro Gilmar Mendes
MS 34070 MC / DF
Art. 353. A confissão extrajudicial, feita por escrito à parte
ou a quem a represente, tem a mesma eficácia probatória da
judicial; feita a terceiro, ou contida em testamento, será
livremente apreciada pelo juiz”.
A confissão não mereceria invalidação pelo nexo com a prova ilícita
– gravação sem autorização. A admissão foi espontânea, na medida em
que sobre ela não houve indagação por autoridade. A iniciativa de
comentar a conversa, admitindo seu conteúdo, mas contestando sua
interpretação, foi da própria autoridade impetrada. Ela não estava sob
interrogatório. Tomou a iniciativa de se pronunciar.
Assim, salvo hipótese de anulação da confissão – erro de fato ou
coação – houve uma admissão irrevogável dos fatos, que torna irrelevante
qualquer debate acerca da validade das gravações, na forma do art. 214
do CC:
“Art. 214. A confissão é irrevogável, mas pode ser anulada
se decorreu de erro de fato ou de coação”.
Ultrapassado esse ponto, passo a avaliar a prova.
É notório que o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva era pessoa de
interesse em duas grandes investigações relativas a fatos ocorridos no seu
governo: Operação Zelotes e Operação Lava Jato.
Em 4.3.2016, medidas ostensivas no âmbito da Operação Lava Jato
revelaram que o ex-Presidente estava sob investigação.
De forma paralela, o ex-Presidente era investigado num esquema de
fraudes, desvio de recursos e lavagem de dinheiro no âmbito da
cooperativa Bancoop. Em 10.3.2016, foi ele denunciado pelo Ministério
Público de São Paulo. Na peça, foi postulada a decretação da prisão
preventiva. Em 14.3.2016, fundada na conexão com as investigações da
Operação Lava Jato, a juíza da 4ª Vara Criminal de São Paulo declinou da
competência da respectiva ação penal para o Juízo responsável por aquela
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Operação, a 13ª Vara Federal de Curitiba.
Ou seja, pairava cenário que indicava que, nos próximos
desdobramentos, o ex-Presidente poderia ser implicado em ulteriores
investigações, preso preventivamente e processado criminalmente.
A assunção de cargo de Ministro de Estado seria uma forma concreta
de obstar essas consequências.
As conversas interceptadas com autorização da 13ª Vara Federal de
Curitiba apontam no sentido de que foi esse o propósito da nomeação.
Em 8.3.2016, às 18h11, Luiz Inácio Lula da Silva mantém conversa
com o cientista político Alberto Carlos. Este diz que analisou seu caso e
que a única chance de escapar da prisão seria a assunção de um
Ministério. Transcrevo:
“ALBERTO CARLOS: Eles te condenaram efetivamente,
tá?! Não tem defesa
jurídica que salve, tá?! eu tô falando assim...
LILS: "uhumm"
ALBERTO CARLOS: eu tô falando é com alarmismo
mesmo, tá?
LILS: " uhumm"
ALBERTO CARLOS: É uma decisão individual daquele
cara lá de Curitiba.
Ele pega e toma a decisão, tá tomada,
acabou!
LILS: "uhumm"
ALBERTO CARLOS: No meu entender, ele faz um balão
de ensaio na sexta-feira. Como é que seria se ele tomasse essa
decisão? Tá, “ele” fez um“ testezinho”, “vamo” quebrar o
gelo e ver como é que seria, tá?! Eu acho, tá, tem uma coisa
que tá na mão de vocês,
é MINISTÉRIO, acabou, porra!
LILS: "uhumm"
ALBERTO CARLOS: Sabe, eu acho que a vacilação da
parte de vocês, tô falando genericamente, de um modo geral,
é uma guerra política , é uma disputa política,
o cara lá é juiz, mas é um tucano, formação
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OPUS DEI e o cacete à quatro, entendeu? Ele
tá ali, depende da cabeça dele, só na cabeça
dele, entendeu? Vai que esse cara é maluco e ousado suficiente
pra tomar uma decisão nessa direção?! Você uma coisa na tua
mão hoje! Usa caralho!
LILS: "uhumm"
ALBERTO CARLOS: Você entendeu?! É alarmista mesmo,
entendeu? Porra, vai
incendiar o país se esse cara fizer, ele não é um homem na
política.
LILS: Então, deixa eu te falar uma coisa, eu
até, até acho que ele deve fazer pra ver o
que acontece...Porque veja, eu quero, eu tô
vivendo uma situação de anormalidade, ou seja,
esses caras podem investigar minha conta na casa do
caralho, que não vão encontrar um centavo. Esses caras sabem
que eu
não tenho apartamento, esses caras sabem que eu não tenho a
chácara, esses caras sabem que não só eu fiz muita
palestra, como eu fui o mais bem pago
conferencista do começo século 21. Só eu e o
Clinton...Eu não sei se o Stiglitz depois, sabe?
Agora se o cidadão começa a levantar suspeita
de tudo isso, eu quero ver como é que eles vão provar que eu
tenho uma chácara, como é eles vão provar que eu tenho um
apartamento. Porque alguém vai ter que pagar“ pra
mim ter”. Porque eu não posso ter, sem pagar...
ALBERTO CARLOS: É, mas dado a forma com o processo é
constituído, eles já fizeram isso, entendeu? Você vai botar a
defesa, e eles vão dizer, dane-se! Ele acabou de dizer aí o
negócio do MARCELO que é DOMÍNIO DO FATO e acabou,
você entendeu?
LILS: "uhumm"
ALBERTO CARLOS: É autoritária, a Justiça
Brasileira é a última peça de autoritarismo da
sociedade brasileira, e você tá embaixo dela agora, "fodeu!" O
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cara montou isso. Entendeu? No meu entender é isso, ele tem a
faca e o queijo na mão, infelizmente dói dizer isso, tá? Agora,
você tem uma coisa na tua mão porra: você,
o PT, a DILMA.... Faz isso e foda-se! Vai ter porrada? Vão
criticar? E daí? Ne porra...Numa boa, você resolve outro
problema, que é o problema da
governabilidade.Porra, você e DILMA, um depende do outro,
cacete!
LILS: "uhumm"
ALBERTO CARLOS: Eu mandei, eu fiz o balão de ensaio
com os meus clientes. Mandei um informativo trabalhando
com a seguinte hipótese. Joguei, é uma hipótese,
da minha cabeça mesmo. Você: MINISTRO; e o
PALOCCI na FAZENDA. Cara, nego começou a me ligar, "vai
acontecer isso?!" Não, eu falei, é só uma hipótese. Acaba
a crise, acaba! Põe o mercado no bolso, e
faz o que tem que ser feito, acabou! Porra, só o PT
tem isso, tem os dois quadros que acabam com a crise, caralho!
Pô, ta esperando o que?! Que arranjo vocês estão esperando?!
LILS: Não, não tô esperando nenhum arranjo não. Pra
mim é muito difícil essa hipótese. Na verdade, ELA JA
OFERECEU, sabe?! Mas eu vou ter uma conversa hoje, que,
depois eu te ligo.
ALBERTO CARLOS: Porra, não tem... olha só, o
articulador é você. Você tentou lá o PMDB, você tem
total credibilidade na frente do PMDB, você tem total
credibilidade na frente do PT, total credibilidade na frente
de todos os partidos. Acabou, sentou lá, tá
resolvido o problema de credibilidade. Tá
resolvido. Botou nosso "amigo" lá na Fazenda, tá resolvido a
economia, a expectativa pura! Expectativa pura! Eu tô fora aqui,
eu tô vendo o que é isso.
LILS: É, mas na hora que esse meu "amigo" faz um papel
disso, e a imprensa cai de cacete nele, quem é que defende?!
ALBERTO CARLOS: Foda-se, tá todo mundo fodido, entendeu?
LILS: Porque ele já foi.
Eu vou conversar e depois a gente volta
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a conversar. Eu te ligo amanhã,
ALBERTO CARLOS:Vocês têm a faca e o queijo
na mão. Só vocês têm isso no Brasil hoje, mais
ninguém. Porra, não vai aproveitar isso?! A sua ousadia, você
sempre foi ousado caralho!
LILS: "uhumm"
ALBERTO CARLOS: Você entende? Ousadia, vai levar
porrada, a GLOBO vai bater, "ahh lá, confissão de culpa".
Foda-se, o que que é melhor?! Isso daí, ganhar o jogo ou perder
o jogo?!
LILS: “uhumm"
ALBERTO CARLOS: Eu acho que não pode
ser vacilante, eu acho que o partido tá
vacilando nesse momento. É vacilação pura.
LILS: Ta bom.
ALBERTO CARLOS: Vocês têm os quadros, e a
faca e o queijo pra reencaminhar a discussão,
politicamente falando, ta?! E é você e "nosso amigo" lá. Fodase,
tá todo mundo queimado.
A Lava Jato queimou todo
mundo, a Câmara, o Senado, porra antes era
só ele que tava queimado, agora é todo mundo. E
daí?
LILS: "uhumm". Ta bom meu irmão , obrigado pelo conselho.
Tá bom.
ALBERTO CARLOS: Mete pau, é duro falar isso pra
você, mas, porra, eu tô alarmado com tudo que tá acontecendo.
Eles vão foder o país, e você pode reverter isso, você
e DILMA podem reverter isso.
LILS: Ta bom meu irmão, ta bom querido.
ALBERTO CARLOS: Vai lá, tamo do lado tá. Do lado tá
Tchau”.
A hipótese da assunção do cargo público partiu do interlocutor, não
de Luiz Inácio Lula da Silva. Além disso, mesmo que, do ponto de vista
de Luiz Inácio Lula da Silva, houvesse o objetivo de obstruir as
investigações, não seria o suficiente para configurar o desvio de
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finalidade. Seria indispensável o concurso do agente público responsável
pelo ato, no caso, da Presidente da República. Elementos subsequentes
indicam esse concurso.
Em uma conversa no dia 10.3, Rui Falcão, Presidente do Partido dos
Trabalhadores, propõe ao então Ministro Chefe da Casa Civil, Jaques
Wagner, a nomeação de Luiz Inácio Lula da Silva para cargo de Ministro
de Estado, para impedir sua prisão:
“RUI FALCÃO: Alô, seu ministro, você tá no celular, é?
ASSESSOR DE JAQUES WAGNER: É.
RUI FALCÃO: Ele sabe as condições que tão o celular
dele né?
ASSESSOR DE JAQUES WAGNER: O presidente Rui
Falcão quer falar com o senhor rapidinho.
JAQUES WAGNER: Alô. RUI FALCÃO: Alô. JAQUES WAGNER: Oi. RUI FALCÃO: Oi, Jaques. O louco do Conserino aqui pediu a preventiva do Lula. JAQUES WAGNER: É, eu vi porra. RUI FALCÃO: Sim, e eles vão deslocar alguém pra cá, como é que é? JAQUES WAGNER: Deslocar em que sentido? RUI FALCÃO: Não, acho que tem que vim (sic) alguém pra cá, porra, pra se mexer aqui também. JAQUES WAGNER: Mas alguém quem? Só pra eu entender. Não, que eu não tô raciocinando. RUI FALCÃO: Não tem ministro da Justiça, não tem. JAQUES WAGNER: Não, tem ministro da Justiça. Ele tá no ministério. Claro.
JAQUES WAGNER: Alô. RUI FALCÃO: Alô. JAQUES WAGNER: Oi. RUI FALCÃO: Oi, Jaques. O louco do Conserino aqui pediu a preventiva do Lula. JAQUES WAGNER: É, eu vi porra. RUI FALCÃO: Sim, e eles vão deslocar alguém pra cá, como é que é? JAQUES WAGNER: Deslocar em que sentido? RUI FALCÃO: Não, acho que tem que vim (sic) alguém pra cá, porra, pra se mexer aqui também. JAQUES WAGNER: Mas alguém quem? Só pra eu entender. Não, que eu não tô raciocinando. RUI FALCÃO: Não tem ministro da Justiça, não tem. JAQUES WAGNER: Não, tem ministro da Justiça. Ele tá no ministério. Claro.
Ele tá no posto.
RUI FALCÃO: Alguma iniciativa vocês precisam tomar.
Porque tá na mão de uma juíza da Quarta Vara que não sabe
quando toma decisão, mas pode tomar decisão hoje. Nós...
JAQUES WAGNER: Ah, ele pediu a preventiva do cara
em cima do quê?
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RUI FALCÃO: Não... não tem... em cima do triplex, da
denúncia, ele é louco. Os três promotores aqui, Jaques.
JAQUES WAGNER: Tá bom. Deixa eu fazer alguma coisa
aqui.
RUI FALCÃO: É, porque eles podem, a juíza pode
despachar agora, tá?
Tem os advogados tá lá (sic), "tamo" chamando deputado... JAQUES WAGNER: Falou, ok. RUI FALCÃO: A outra coisa é o seguinte: se nomear ele hoje, o que que acontece? JAQUES WAGNER: Aí não sei, eu tô por fora. RUI FALCÃO: Então, consulta isso também... JAQUES WAGNER: Mas ele já decidiu? RUI FALCÃO: Não, mas nós "tamo" todo mundo pressionou ele aqui. Fernando Haddad, todo movimento sindical, todo mundo. JAQUES WAGNER: Tá bom. RUI FALCÃO: Tá. JAQUES WAGNER: Eu acho que tem que ficar cercado em torno do prédio dele e sair na porrada, Rui. RUI FALCÃO: Tem nada. JAQUES WAGNER: Não, tudo bem, ué? Mas tem que cercar tudo. RUI FALCÃO: Não, eu sei, mas enquanto isso... JAQUES WAGNER: Tudo bem, deixa eu falar aqui. RUI FALCÃO: Alerta a presidente. Toma a decisão de Estado-Maior aí. JAQUES WAGNER: Falou, ok... RUI FALCÃO: E mantém a gente informado. Ele, tá? JAQUES WAGNER: Tá bom”.
Tem os advogados tá lá (sic), "tamo" chamando deputado... JAQUES WAGNER: Falou, ok. RUI FALCÃO: A outra coisa é o seguinte: se nomear ele hoje, o que que acontece? JAQUES WAGNER: Aí não sei, eu tô por fora. RUI FALCÃO: Então, consulta isso também... JAQUES WAGNER: Mas ele já decidiu? RUI FALCÃO: Não, mas nós "tamo" todo mundo pressionou ele aqui. Fernando Haddad, todo movimento sindical, todo mundo. JAQUES WAGNER: Tá bom. RUI FALCÃO: Tá. JAQUES WAGNER: Eu acho que tem que ficar cercado em torno do prédio dele e sair na porrada, Rui. RUI FALCÃO: Tem nada. JAQUES WAGNER: Não, tudo bem, ué? Mas tem que cercar tudo. RUI FALCÃO: Não, eu sei, mas enquanto isso... JAQUES WAGNER: Tudo bem, deixa eu falar aqui. RUI FALCÃO: Alerta a presidente. Toma a decisão de Estado-Maior aí. JAQUES WAGNER: Falou, ok... RUI FALCÃO: E mantém a gente informado. Ele, tá? JAQUES WAGNER: Tá bom”.
Até então, temos uma sugestão formulada ao membro do primeiro
escalão governamental, sem indicação de acolhida por parte da Chefe de
Governo.
Mas duas conversas entre Luiz Inácio Lula da Silva e a Presidente da
República parecem demonstrar que esta assumiu o propósito como seu.
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No dia 4.3, às 13h02, Luiz Inácio Lula da Silva se diz assustado com
a “República de Curitiba” e afirma que a Suprema Corte está acovardada:
“LILS: É um espetáculo de pirotecnia sem
precedentes, querida. Eles estão
convencidos de que com a imprensa chefiando qualquer
processo investigatório eles conseguem refundar a República.
DILMA: É isso aí!!
LILS: Nós temos uma SUPREMA CORTE totalmente
acovardada, nós temos uma SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA totalmente acovardado , um PARLAMENTO
totalmente acovardado, somente nos últimos tempos é que
o PT e o PC do B é que acordaram e começaram a brigar. Nós
temos um PRESIDENTE DA CÂMARA fodido, um
PRESIDENTE do SENADO fodido, não sei quanto
parlamentares ameaça dos, e fica
todo mundo no compasso de que vai acontecer um
milagre e que vai todo mundo se salvar. Eu,
sinceramente, tô assustado com a“ REPÚBLICA DE
CURITIBA”. Porque a partir de um juiz de 1ª
Instância, tudo pode acontecer nesse país.
DILMA: Então era tudo igual o que sempre foi, é?”.
Não há aqui pedido de nomeação para o cargo, mas há uma clara
indicação da crença de que seria conveniente retirar a acusação da 13ª
Vara Federal de Curitiba – a “República de Curitiba” –, transferindo o
caso para uma “Suprema Corte acovardada”. Além do tumulto
processual causado pela declinação, há a crença de que o foro no STF
seria leniente com o ex-Presidente.
O objetivo da Presidente da República de nomear Luiz Inácio Lula
da Silva para impedir sua prisão é revelado pela conversa seguinte, em
16.3, 13h32. Trata-se de diálogo sobre o termo de posse, com o seguinte
conteúdo:
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“DILMA: Alô.
LILS: Alô.
DILMA: LULA, deixa eu te falar uma coisa.
LILS: Fala querida. "Ahn"
DILMA: Seguinte, eu tô mandando o "BESSIAS" junto com
o PAPEL pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que
é o TERMO DE POSSE, tá?!
LILS: "Uhum". Tá bom, tá bom.
DILMA: Só isso, você espera aí que ele tá indo aí.
LILS: Tá bom, eu tô aqui, eu fico aguardando.
DILMA: Tá?!
LILS: Tá bom.
DILMA: Tchau.
LILS: Tchau, querida”.
A Presidente claramente orienta Luiz Inácio Lula da Silva quanto à
utilização do documento: “só usa em caso de necessidade”. A tese de que
a Presidência ficaria com o documento e só usaria se o empossando não
fosse à cerimônia não se coaduna com o dito na conversa.
Tampouco a versão oficial é compatível com a legislação de regência
do ato de posse.
A lei diz que a posse se dá “pela assinatura do respectivo termo”, no
prazo de trinta dias “contados da publicação do ato de provimento” – Lei
8.112/89, art. 13, §1º. Em regra pessoal, a posse pode se dar mediante
procuração específica – § 3º do mesmo artigo.
Parece indisputável que, no momento da conversa, Luiz Inácio Lula
da Silva não poderia tomar posse, por duas razões. Primeiro, porque o
cargo de Ministro Chefe da Casa Civil estava ocupado por Jaques
Wagner. Segundo, porque ainda não fora nomeado. A exoneração de
Wagner e nomeação de Luiz Inácio Lula da Silva aconteceram pela
publicação de edição extraordinária do Diário Oficial da União, na noite
daquele dia 16.3.
A versão oficial está atenta a essa impossibilidade. Não cogita de que
a posse estaria ocorrendo no momento da entrega do termo.
O
documento seria uma reserva, para ser assinada pela Presidente da
República, e portanto tornar-se um documento público, no dia seguinte,
17.3, na qual ocorreria a cerimônia.
Ocorre que a legislação de regência veda essa hipótese. Se Luiz
Inácio Lula da Silva não estivesse presente na cerimônia de posse, duas
consequências poderiam ocorrer: ou ele não tomaria posse – podendo
fazê-lo a qualquer momento, no intervalo de trinta dias contados da
publicação da nomeação – ou tomaria posse por procuração – caso
enviasse mandatário com poderes específicos.
Em nenhuma hipótese, a posse poderia ocorrer pela aposição, pela
Presidente, de sua assinatura, em termo adredemente assinado pelo
nomeado.
A despeito disso, a Presidente da República emitiu nota,
acompanhada de documento intitulado “termo de posse”, assinado pela
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autoridade empossada, mas não pela autoridade que dá a posse, sem data
preenchida. O mesmo documento foi exibido na cerimônia de posse,
como sendo o objeto da conversa em questão. O texto do documento dá
conta de que a suposta posse teria ocorrido “perante a Excelentíssima
Senhora Presidenta da República”.
Se Luiz Inácio Lula da Silva não houvesse comparecido à cerimônia,
isso seria uma clara contrafação.
Se havia dúvida quanto à possibilidade de comparecimento pessoal,
bastaria deixar procuração assinada com poderes para o ato.
Uma explicação plausível para o documento objeto da conversa é
que foi produzido um termo de posse, assinado de forma antecipada pela
Presidente da República, com a finalidade de comprovar fato não verídico
– que Luiz Inácio Lula da Silva já ocupava o cargo de Ministro de Estado.
O objetivo da falsidade é claro: impedir o cumprimento de ordem de
prisão de juiz de primeira instância. Uma espécie de salvo conduto
emitida pela Presidente da República.
Ou seja, a conduta demonstra não apenas os elementos objetivos do
desvio de finalidade, mas também a intenção de fraudar.
Assim, é relevante o fundamento da impetração.
É urgente tutelar o interesse defendido.
Como mencionado, há investigações em andamento, para apuração
de crimes graves, que podem ser tumultuadas pelo ato questionado. Há,
inclusive, pedido de prisão preventiva e de admissibilidade de ação
penal, que necessitam de definição de foro para prosseguimento.
Por fim, registro que os presentes mandados de segurança coletivos
impetrados no Supremo Tribunal Federal não têm o condão de suspender
o trâmite de ações populares já em curso em outras instâncias ou mesmo
de obstar a propositura de nova demanda. Tratando-se de feitos de
competência de instâncias distintas, impossível sua reunião. Tampouco a
presente ação impede a análise de tutela de urgência em ações populares,
conforme dispõe o art. 1º, § 2º, da Lei 8.437/92.
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Ante o exposto, defiro a medida liminar, para suspender a eficácia
da nomeação de Luiz Inácio Lula da Silva para o cargo de Ministro Chefe
da Casa Civil, determinando a manutenção da competência da justiça em
Primeira Instância dos procedimentos criminais em seu desfavor.
Comunique-se à 13ª Vara Federal de Curitiba.
Notifique-se a autoridade impetrada.
Dê-se ciência ao Advogado-Geral da União.
Inclua-se Luiz Inácio Lula da Silva na autuação. Cite-se como
litisconsorte passivo necessário.
Apensem-se os autos dos Mandados de Segurança 34.070 e 34.071,
para tramitação e julgamento conjunto.
Com as respostas, dê-se vista ao Procurador-Geral da República.
Comunique-se à 13ª Vara Federal de Curitiba. Notifique-se a autoridade impetrada. Dê-se ciência ao Advogado-Geral da União. Inclua-se Luiz Inácio Lula da Silva na autuação. Cite-se como litisconsorte passivo necessário. Apensem-se os autos dos Mandados de Segurança 34.070 e 34.071, para tramitação e julgamento conjunto. Com as respostas, dê-se vista ao Procurador-Geral da República.
Publique-se. Int.
Brasília, 18 de março de 2016
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Ministro GILMAR MENDES
Relator
Documento assinado digitalmente
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