quinta-feira, 12 de novembro de 2015

PSDB pede o afastamento de Cunha e presidente diz que o partido é livre para se posicionar




Lucio Bernardo Junior / Câmara dos Deputados
Deputados do PSDB anunciam rompimento com o presidente da Câmara, dep. Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ao centro, líder do PSDB, dep. Carlos Sampaio (SP)
Em entrevista coletiva, o líder Carlos Sampaio (ao microfone) anunciou a posição do PSDB contra Eduardo Cunha
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, disse que o PSDB nunca foi seu aliado e que pode se posicionar como quiser. A afirmação é uma resposta ao pedido de afastamento de Cunha da Presidência da Casa feito nesta quarta-feira (11), em entrevista e em pronunciamento no Plenário, pelo líder do PSDB, deputado Carlos Sampaio (SP). De acordo com Sampaio, as acusações contra Cunha são graves e impedem a sua permanência no cargo. O documento lido por ele na tribuna foi assinado pelos 54 deputados que compõem a bancada do PSDB.
“Ninguém está aqui a prejulgar. Cabe a vossa excelência apresentar provas ao Conselho de Ética”, disse Sampaio no Plenário, dirigindo-se a Cunha.
Ao ser questionado por jornalistas sobre a iniciativa dos tucanos, Cunha respondeu: "O PSDB não me apoiou na minha eleição para presidente. Aliás, o candidato do partido foi o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), que está investigado na Lava Jato por ter recebido recursos do delator Ricardo Pessoa. Esse foi quem o PSDB apoiou na campanha. Cada um tem o direito de se posicionar como quiser e não me cabe comentar, criticar; eu não vou tecer comentários, cada um tem todo o livre-arbítrio para se posicionar como quiser.” Delgado afirma não ter cometido nenhuma irregularidade.
Eduardo Cunha disse respeitar o PSDB, que representa, segundo ele, o principal contraponto ao governo dentro da Câmara: "Eu tratei [o partido] com deferência e com igualdade. Dei oportunidades iguais, de trato igual. Se o PSDB decidiu ter essa posição, não vejo problema. Já não tive atritos tão maiores com o PT do que esse que o PSDB está tendo comigo?”
Em relação ao Conselho de Ética, Eduardo Cunha afirmou que nunca teve os votos dos dois representantes do PSDB e que o atual posicionamento do partido não vai mudar essa realidade. Cunha também já disse que não vai se afastar da Presidência.
Explicações
Em entrevista coletiva nesta quarta-feira, Carlos Sampaio informou que a bancada do PSDB defende o afastamento de Cunha por considerar que as explicações prévias apresentadas pelo presidente à imprensa sobre a existência de contas no exterior não são convincentes.

De acordo com Sampaio, o sentimento unânime da bancada do PSDB na Câmara é o de que as alegações apresentadas são inconsistentes e insuficientes. “Ele apresentou uma defesa verbal, pessoalmente, e essa defesa acabou se tornando um desastre”, afirmou Sampaio. Ele avalia que Cunha não se explicou e não conseguiu convencer nem a bancada do PSDB nem o Brasil. “Fez alegações soltas, sem a consistência e o necessário respaldo em provas”, acrescentou Sampaio.
Em entrevista à TV Globo, Cunha afirmou que os recursos usufruídos por ele no exterior vêm de negócios de venda de carne no continente africano. Ele mostrou passaportes a líderes partidários para comprovar dezenas de viagens na década de 80 a países da África.
Há cerca de um mês, o PSDB, juntamente com outros partidos de oposição (PSD, DEM, PPS), já havia defendido o afastamento do presidente da Câmara, após a Procuradoria-Geral da República ter recebido do Ministério Público da Suíça cópias do passaporte, comprovantes de endereço no Rio de Janeiro e assinaturas de Cunha que poderiam mostrar que o presidente da Câmara mantinha recursos no exterior.
Em março, Cunha negou que tenha envolvimento com o esquema de pagamento de propinas investigado pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, e afirmou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras que não tem contas bancárias fora do País. “Se ele não tiver provas para corroborar o que disse, e ele tem o direito de tê-las, porque isso é exatamente o contraditório, ele certamente vai ter muita dificuldade no Conselho de Ética”, disse Sampaio, em referência ao processo aberto pelo Psol e pela Rede Sustentabilidade que pede a cassação de Cunha. “Ele tem como se defender? Tem, mas a defesa apresentada até agora está longe de refutar as acusações”, completou Sampaio.
Impeachment
O líder do PSDB disse ainda que o partido mantém como “causa maior” o impeachment da presidente Dilma Rousseff e que o afastamento de Cunha não interfere nesse objetivo. “Não é pelo fato de termos esse objetivo que, ao trilharmos o caminho do impeachment, vamos transigir com aquilo que não é ético”, ressaltou Sampaio. “Esta nossa decisão [sobre Cunha] em nada inibe a nossa mais absoluta convicção de que o impeachment é condição sine qua non”, concluiu Sampaio.

Essa fala foi repercutida pelo líder do Psol, deputado Chico Alencar (RJ), que questionou a atitude dos tucanos. “O PSDB pede que Cunha se afaste da função e vá se defender nos foros em que está sendo questionado, mas dá a entender que ele tem legitimidade para acolher processo de impeachment”, comentou.
Os deputados Nelson Marchezan Junior (PSDB-RS) e Betinho Gomes (PSDB-PE), integrantes do Conselho de Ética, entendem que com as explicações dadas até o momento Cunha perdeu a legitimidade de presidir a Câmara.
Porém, para Marchezan Junior qualquer manifestação de julgamento prévio, antes do conhecimento das provas, abriria a possibilidade de que fosse questionada a suspeição deles no Conselho. “Não podemos nos manifestar sobre as provas a que sequer tivemos acesso ainda, e que serão apresentadas com a defesa. Mas, no que se refere à aceitação do pedido de investigação, há uma vontade geral da sociedade e nossa de que isso seja investigado”, explicou.
O líder do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva (SP), declarou estranhar a posição do PSDB, que, segundo ele, parece não querer o impeachment de Dilma: “Foi muito ruim a posição do PSDB em relação aos seus companheiros, porque nós somos todos da oposição e eles deveriam ter combinado conosco e não combinaram.”

Da Reportagem
Edição – João Pitella Junior

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