terça-feira, 21 de janeiro de 2014

'Me arrependi de chamar a polícia', diz travesti brasileira detida em Dubai


Uma travesti brasileira que enfrenta um processo na Justiça dos Emirados Árabes Unidos por ter identidade masculina e se vestir como mulher contou ao G1, em entrevista por telefone, como ocorreu sua detenção e como estão sendo os dias no país até sua nova audiência, marcada para dia 23 de março.
 
 A brasileira, que não quis ter o nome divulgado, foi com uma amiga, também travesti, a passeio na metade de novembro ao emirado, e, segundo ela, foi expulsa de uma boate no dia 13 de dezembro. 
"Estava tudo indo bem no país, já tínhamos ido a outras discotecas aqui e nada tinha acontecido, não tivemos nenhum tipo de proeblema.
 
 Foi justamente nesta discoteca que fomos que os seguranças perceberam que éramos travestis. Não chegamos a ficar nem 20 minutos no loocal, nos chamaram e pediram nossos documentos. Quando viram os documentos, nos tiraram pra fora da boate, e foram bem grosseiros, mal educados, mesmo. Como qualuqer pessoa normal, pensamos:
 
 'vamos ligar para a polícia, porque isso não pode acontecer'. A gente estava bem vestida, não estávamos com roupas curtas nem nada, eu estava com um macacão longo. A gente chamou a polícia, que não resolveu e nos levou para uma unidade. Ficamos dois dias presas", contou a brasileira, que diz se arrepender de ter chamado a polícia.
 
Segundo o Itamaraty, a primeira informação de que elas estariam detidas chegou à embaixada brasileira em 23 de dezembro. A assessoria de imprensa do ministério afirmou que está em contato permanente com elas e com as autoridades judiciárias dos Emirados "para garantir que tenham o mais amplo direito à defesa". As brasileiras, no entanto, disseram que estão sem advogados. Elas estão se mantendo com recursos próprios. "Temos uns amigos que estão ajudando a gente como podem, temos um pouquinho de dinheiro e estamos tentando se virar e guardar."
 
A dupla não pode deixar Dubai pois os passaportes estão retidos pelas autoridades. O Itamaraty não soube informar a pena máxima que elas podem receber, mas uma das possibilidades é a de que sejam deportadas.
 
A brasileira disse que foi bem tratada na cadeia. "Ficamos em celas separadas e as celas foram cobertas para ninguém nos ver". Após uma audiência, elas foram liberadas, mas os passaportes continuaram retidos. "Tínhamos conhecido umas filipinas que fazem a unha, e fomos procurá-las pedindo ajuda. Uma delas nos levou para casa, nós dormimos lá algumas noites e conhecemos através delas essa família de filipinos.
 A casa é minúscula, eles acordam muito cedo pra trabalhar e a gente acaba tirando a privacidade deles, mas eles são maravilhosos, não queríamos perturbar. Queremos ir para um quarto só pra mim e pra minha amiga."
 
Segundo a brasileira, não houve nenhum problema com o fato de serem travestis em qualquer momento até o dia da boate. Ela disse que as duas têm vistos e que passaram normalmente pela imigração do país - mesmo com os documentos mostrando identidades masculinas.
 
"Estamos com medo, não queremos que nada de mal aconteça com a gente. Ouvimos relatos de travestis que vieram pra cá e são presas, ficam no máximo sete dias e são deportadas. A gente não entendeu porque eles colocaram nosso processo pra julgamento. [...] A gente veio pra cá pra conhecer, jamais quisemos agredir, ferir as leis morais deles, nunca passou pela nossa cabeça isso."
 
Fonte/Giovana Sanchez Do G1, em São Paulo

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