O arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, fez uma breve oração durante o velório.
RIO - Amigos, familiares e personalidades da música, da literatura e da religião velam o corpo do jornalista e acadêmico Luiz Paulo Horta. A cerimônia está sendo realizada na sede da Academia Brasileira de Letras, no Centro do Rio, desde as 15h. Editorialista e crítico de música clássica do GLOBO desde o início dos anos 1990, Horta morreu na manhã deste sábado, vítima de infarto. Ele completaria 70 anos no próximo dia 14.
Durante o velório, o arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, fez uma breve oração para cerca de 100 pessoas. Ele chegou acompanhado do padre Omar Raposo que, em homenagem à paixão de Horta pela música, cantou e tocou ao piano a música "Segura na mão de Deus".
— Podemos dizer que o Luiz Paulo era um cristão leigo, que via o mundo pela cultura e pela arte. Mostrava que, em qualquer lugar, se pode viver como cristão. Ele tinha uma formação jesuítica, mas um coração de franciscano, marcado pela simplicidade. Nas últimas crônicas sobre a Jornada Mundial da Juventude, ele falou sobre a beleza do evento, a presença dos jovens e das mães com seus filhos nas ruas. Ele tinha capacidade de ver o belo, agora vai ver o paraíso celestial. Sabemos que junto à família ele vai deixar saudade, mas ele estará com Deus.
O velório seguirá ininterrupto pela madrugada. Às 8h30m de domingo, Dom Orani Tempesta celebrará uma missa de corpo presente, também na ABL. Às 11h, Horta será enterrado no mausoléu da instituição, no cemitério São João Batista.
O governador Sérgio Cabral divulgou nota lamentando a morte do jornalista e membro da Academia Brasileira de Letras:
— O Brasil e o Rio de Janeiro perderam um grande intelectual que, sem dúvida, era o maior sucessor de Alceu Amoroso Lima.
Em nota, o prefeito Eduardo Paes também comentou o falecimento:
— Luiz Paulo Horta foi um intelectual plural e fascinante, homem íntegro. A notícia de seu falecimento deixa todos tristes e surpresos. Atuante, Horta recentemente nos presenteou com seus artigos sobre a visita do Papa, sempre cheio de sabedoria.
Em São Paulo, o diretor artístico da Osesp, Arthur Nestrovski, dedicou o concerto matinal deste domingo a Luiz Paulo Horta:
— A Fundação Osesp expressa seus sinceros sentimentos à família de Luiz Paulo Horta, grande jornalista e amigo da música erudita, que sempre acompanhou e apoiou a Osesp.
Mulher de Horta, com quem casou-se em 2007, a editora do caderno Ela, Ana Cristina Reis, falou sobre a perda:
— Luiz já estava preparando o seu aniversário de 70 anos. Ontem, ele passou um e-mail para os mais próximos dizendo 'seu amigo chegou aos 70. Foi impossível evitar'. Chegar a essa idade era um sonho dele. Ele vivia intensamente, fazia tudo e nunca deixou que os problemas cardíacos fossem uma limitação para o seu trabalho e sua vida. Os jornalistas em geral vêm a vida com cinismo, descrença, ele não. Apesar de jornalista, Luiz Paulo enxergava beleza em tudo.
Ana Magdalena Horta, jornalista e filha de Luiz Paulo, falou sobre a alegria com a visita do Papa Francisco:
— Ele amava escrever, amava música. Tinha uma espiritualidade muito profunda, simples. Ele gostava de passar isso. Ele estava feliz com a vinda do Papa. Foi um apogeu na vida dele escrever o que estava sentido e partilhar essa alegria. Ele nunca ficava satisfeito com o que sabia e queria sempre aprender mais, e ao mesmo tempo era uma pessoa muito simples.
A outra filha, Ana Clara Horta, também lembrou com carinho do pai:
— Ele foi um pai incrível. Ele era uma pessoa dócil.
O diretor de redação do GLOBO, Ascânio Seleme, comentou a importância de Horta para o jornal:
— Perdemos um mestre, um exemplo de integridade e correção sem par. O GLOBO perde muito com a ausência do Luiz Paulo. Ele representou a tradição da música clássica no jornalismo. Nos anos em que foi responsável pelo programa de integração dos estagiários, ele foi um formador de jovens talentos. Cuidava com carinho dos jovens que ingressavam na profissão. O curioso é que ontem ele mandou e-mail para nós, seus amigos, convidando para seu aniversário fazendo uma brincadeira: "cheguei aos 70. Foi impossível evitar".
Merval Pereira, colunista do GLOBO e membro da ABL, também lamentou a perda:
— Luiz Paulo era um sujeito elegante, de uma delicadeza que só as pessoas cultas cultivam. Um sujeito com muitas facetas, a música clássica, especialista em religião, um jornalista. Morreu muito cedo e fora de hora.
Paulo Motta, editor executivo do GLOBO, complementou:
— Perdemos não só uma referência cultural na redação, mas também um exemplo de gentileza e bom humor.
Ali Kamel, diretor geral de Jornalismo e Esporte da TV Globo, destacou a humildade do jornalista:
— O Luiz Paulo era da inteligência mais brilhante que conheci. Ele era ao mesmo tempo humilde, sem nariz em pé. Sem dúvidas, a pessoa mais gentil que conheci. Se eu fosse defini-lo seria assim: um sábio gentil. Foi uma perda precoce. Fará muita falta para o Brasil, para o jornalismo, para o GLOBO e para a ABL.
O acadêmico Cícero Sandroni falou sobre o colega, que ocupava a cadeira de número 23, que pertenceu a Machado de Assis, desde 2008:
— Luiz Paulo Horta era uma figura importante para a academia. Nós todos lamentamos profundamente a perda desse companheiro. Uma pessoa que gostava de conversar e era muito afável e afetuoso. E era um homem também que tinha uma grande cultura, com conhecimento em filosofia, teologia e música. Essa é uma perda inesperada e dolorosa e, em sua homenagem, vou propor que os artigos que ele escreveu sobre a visita do Papa Francisco, publicados no GLOBO, sejam transcritos nos anais da Casa.
Luiz Roberto Nascimento e Silva, ex-ministro da Cultura no governo Itamar Franco, elogiou a forma como Horta tornava simples temas eruditos:
— Luiz Paulo teve uma importante contribuição para tornar compreensível às pessoas as músicas clássicas eruditas através de palavras simples. Recentemente, passou a fazer algo semelhante em relação ao catolicismo no Brasil explicando e tornando mais próximo das ruas o sentido da Igreja. Ele sempre exerceu a profissão de jornalista ao longo da vida com coerência e seriedade.
O jornalista e escritor Zuenir Ventura citou a generosidade do imortal. Além de ser um dos jornalistas mais cultos que já conheci, encarnava nele todas as virtudes cristãs. Ele não só falava sobre isso, como praticava. Era alguém que todos tinham um carinho por ele, por sua cultura e generosidade.
A jornalista Cora Rónai também lamentou a morte do amigo:
— Duas palavras definem quem era Luiz Paulo: cultura e gentileza. Ele tinha um jeito generoso e simples de tratar a todos,o produtor teatral Fernando Bicudo também falou sobre a importância de Horta:
— Conheci o Luiz Paulo a vida inteira. Era um grande homem, muito mais que escritor. Um intelectual, criativo e brilhante. Era um dos homens com a mente mais instigada que conheci. É uma perda irreparável. Era acima de tudo um amante da nossa cultura. O que me deixa um pouco em paz, é saber que ele morreu feliz pelo sucesso da Jornada Mundial da Juventude, que ele acompanhou de perto e fez artigos brilhantes.
O gramático e também acadêmico Evanildo Bechara comentou a participação de Horta na ABL:
— A presença de Luiz Paulo na academia foi muito rápida, mas muito marcante. Ele nos marcou não só pelo que trouxe de saber, mas também pelo que fez em prol da continuidade de nossas atividades musicais, nossos concertos de piano e violino. Sempre que havia um concerto promovido pelo Luiz Paulo, ele enriquecia as apresentações com seus comentários. Nunca perdia uma efeméride em relação à morte ou nascimento de algum compositor importante. Ele morreu, mas não estará ausente. Sua presença continuará entre nós. Ele deixou raízes tão profundas que estará para sempre conosco.
Moacyr Andrade, crítico de música e escritor, lembrou a contribuição do jornalista para a música erudita:
— O Luiz Paulo sustentou sozinho a tradição de crítica de música erudita no país por muitos anos. Ele fazia críticas profundas e sem cátreda. Com compreensão e elegância.
Eduardo Eugênio, presidente da Firjan, elogiou o jeito simples e discreto do imortal:
— Luiz Paulo Horta foi um exemplo. Simples, discreto, ético. Ensinou-nos a ser um homem de Deus num mundo carente dos verdadeiros e profundos valores. Preparava-se para os festejos de seus 70 anos, mas, inspirado por Francisco que tanto louvou, resolveu antecipar a celebraçao para hoje, em grande estilo, junto aos anjos e aos santos na casa do Senhor. Viva Luiz Paulo!
O padre jesuíta Paul Schweitzer também falou sobre a relação do amigo com a religião:
— Nós éramos muito amigos. Viajamos, inclusive, juntos para a Terra Santa (Jerusalém), em janeiro. Era uma pessoa que sempre procurava a verdade, era autêntica, e um homem muito culto que sabia expressar a fé da forma que as pessoas entendiam. Nos seus artigos sobre a visita do Papa Francisco para a JMJ ele conseguiu dar uma orientação positiva ao que significou a presença do Papa.
Foto Márcio Alves/Agência O Globo Márcio Alves / Agência O Globo
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