Papa Francisco após audiência geral na Praça de São Pedro em 20 de novembro
STEFANO RELLANDINI / REUTERS
CIDADE DO VATICANO - O Papa Francisco divulgou nesta terça-feira um documento no qual delineia a missão de seu pontificado, detalhando como a Igreja Católica e o próprio papado devem ser reformados para criar uma instituição mais missionária e misericordiosa, com atenção especial aos pobres. O texto - uma espécie de programa do pontificado - é o primeiro grande trabalho que Francisco assina sozinho.
No documento de 84 páginas, conhecido como exortação apostólica, o Pontífice argentino faz um apelo pela renovação da Igreja Católica Romana e ataca o capitalismo irrestrito como “uma nova tirania”, instando líderes globais a combaterem a pobreza e a desigualdade.
“A atividade missionária é ainda hoje o maior desafio para a Igreja e a causa missionária deve ser a primeira”, diz o documento. “É vital que hoje a Igreja anuncie o Evangelho a todos, em todos os lugares, o tempo todo, sem demora, e sem medo”.
Chamada de “Evangelii Gaudium” (A alegria do Evangelho), a exortação é apresentada em estilo de pregação simples e acolhedora, distinta dos escritos mais acadêmicos de antigos papas. Francisco afirma que a renovação da Igreja não pode ser adiada e que o Vaticano e sua hierarquia arraigada “também precisam de ouvir o apelo à conversão pastoral”.
A alegria - palavra do título - é vista em vários fragmentos, porque Francisco não quer evangelizadores com cara de “funeral”, “tristes, desanimados, impacientes ou ansiosos”, mas pessoas “cujas vidas irradiam o fervor de quem recebeu a alegria de Cristo”.
“A alegria do evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus”, inicia a Exortação Apostólica.
O Papa pede uma Igreja com vocação missionária, não obcecada “à doutrina moral”. E que se concentre especialmente em sair ao encontro dos pobres, doentes e menos favorecidos. Ele também mostra seu desejo pela descentralização, que a instituição católica não tenha pretensões de obter o monopólio das soluções de problemas, e não se espera do Papa “a palavra definitiva sobre todas as questões que afetam a Igreja e o mundo”.
“A centralização excessiva, ao invés de ajudar , complica a vida da Igreja e do seu dinamismo missionário”, escreve. “Meu dever como bispo de Roma estar aberto a sugestões que orientem o exercício do meu ministério para que seja mais fiel ao significado que Jesus queria dar e as necessidades atuais da evangelização”, disse ele, falando no sentido de dar mais poder às conferências episcopais.
O “Evangelii Gaudium“ é sobretudo um chamado ao resgate da mensagem essencial do cristianismo. Francisco pede aos bispos que deem um passo atrás e nem sempre estejam à frente do rebanho. Ele faz um apelo pela implementação de “mecanismos participativos” e de outras formas de diálogo com os fiéis, “com o desejo de ouvir a todos e não apenas a alguns que acariciam seus ouvidos.”
Defende uma igreja que seja consciente de que os “preceitos dados por Cristo são pouquíssimos”, e que não tenha medo de revisar costumes e normas que foram adotadas ao longo dos séculos.
“Há normas e preceitos eclesiásticos que podem ter sido eficazes em outras épocas, mas já não têm mais a mesma força educativa”, afirma.
O Pontífice reiterou declarações anteriores de que a Igreja não pode ordenar mulheres ou aceitar o aborto. O sacerdócio só para homens, diz ele, “não é uma questão aberta à discussão”, mas as mulheres devem ter mais influência na liderança da Igreja.
O documento é resultado de uma reunião com bispos de todo o mundo em 2012, quando discutiram como anunciar o Evangelho no mundo atual. Em julho, o Vaticano lançou uma encíclica de 84 páginas assinada por Francisco e Bento XVI - “Lumen Fidei” (A luz da fé ) -, mas o texto foi mais escrito por Joseph Ratzinger.
Fonte/O Globo
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