BRASÍLIA - Quase onze meses depois de entrar em vigor, a lei que fixa o prazo
de até 60 dias para pacientes com câncer iniciarem o tratamento na rede pública
de saúde ainda não foi colocada em prática. O entrave para que pacientes vejam
concretizado o direito de acesso a uma terapia no tempo considerado razoável é o
Sistema de Informação do Câncer (Siscam), uma ferramenta anunciada poucos dias
antes da vigência da lei e que, por ironia, foi classificada pelo então ministro
da Saúde, Alexandre Padilha, como "uma nova etapa do tratamento do câncer no
País".
A presidente da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à
Saúde da Mama (Femama), Maira Caleffi, avalia que a regulamentação limitou e
desvirtuou a Lei 12.732/12, que determinou o prazo de 60 dias. "A criação do
sistema, por si só, não é um problema. O erro foi condicionar o prazo de 60 dias
ao funcionamento completo do Siscam", afirmou.
O Ministério da Saúde, por meio da assessoria de imprensa, afirma que o
Siscam, por si só, não impede que a lei seja colocada em prática. Mas reconhece
que, como ele não está em funcionamento, não há como fazer o controle de
prazos.
O software foi ofertado gratuitamente pelo Ministério para todas as
secretarias de Saúde em maio do ano passado. O recurso tem capacidade de reunir
o histórico do paciente e do tratamento. A expectativa anunciada pelo ministério
era a de que a partir de agosto do ano passado todo o registro de novos casos de
câncer no País já estariam sendo feitos pelo Siscam. Na ocasião, a pasta
anunciara que estados e municípios que não implantassem o sistema até o fim do
ano teriam suspensos os repasses feitos para atendimento oncológico.
O prazo, no entanto, não foi sacramentado em portaria. A oficialização
somente ocorreu em dezembro: e a data limite, concedida na época, era março
deste ano. Na prática, uma folga dada para os municípios. Agora, o ministério
avisa que a data será novamente prorrogada. Embora a portaria ainda não tenha
sido publicada com a dada, Estados e municípios já foram avisados sobre o novo
fôlego.
De acordo com o Ministério, a ampliação do prazo foi feita para tentar
aumentar a adesão de municípios. Pelas contas da pasta, 3.961 municípios
receberam senha e até o momento foram cadastrados 1.539 casos de diagnóstico
positivo de câncer.
Dificuldades. Maira avalia que esse não é o único problema
enfrentado na área de tratamento de câncer, sobretudo o de mama. Como exemplo,
ela cita a limitação para o uso de medicamento trastuzumabe para pacientes com
câncer de mama com metástase. "Há estudos mostrando que o medicamento traz
benefícios para essas pacientes", afirma. "Essas mulheres acabam sendo
duplamente penalizadas: demoram para receber o diagnóstico, iniciam o tratamento
muitas vezes numa etapa tardia, apresentam metástase e, quando isso ocorre, não
têm direito ao uso do remédio."
O Instituto Nacional do Câncer estima que 518 mil novos casos de todos os
tipos de câncer são registrados no País por ano. Em 2010, ocorreram 179 mil
mortes em decorrência da doença. O câncer dos brônquios e do pulmão foi o tipo
que mais matou (21.779), seguido do câncer do estômago (13.402), de próstata
(12.778), de mama (12.853) e de cólon (8.385).
Fonte/Lígia Formenti - O Estado de S. Paulo
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