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quarta-feira, 27 de julho de 2016

Pai não se arrepende e defende direito à criação da filha Júlia



Mimado, frio e inteligente. É assim que conhecidos e a delegada Gleide Ângelo descrevem Janderson Rodrigo Salgado de Alencar, 29 anos, preso no último sábado depois de sair de Pernambuco com a filha, de 1 ano e 9 meses, sem autorização judicial. Janderson fugiu com Júlia de Olinda no dia 10 de julho e durante 14 dias percorreu 3,5 mil quilômetros, passando por nove cidades com a criança, que foi encontrada abatida e doente pela polícia, no Amapá. Sem demonstrar arrependimento, Janderson disse a polícia que tem o direito de criar a filha. Para a família dele, apenas uma versão da história está sendo contada. 

A polícia acredita que cruzar a fronteira e sair do país levando a filha era o plano de Janderson Alencar, que já estava com o passaporte em mãos quando foi detido pela polícia pernambucana em Santana, no Macapá. Trancado com a filha por três dias no kitnet recém-alugado na cidade, Janderson foi preso no sábado depois de cair em uma armadilha da polícia: um agente se passou por eletricista para acessar o apartamento, que havia tido a rede elétrica desligada para forçar a saída de Janderson. 

Ação e reação 
Segundo a polícia, nos dias em que esteve com o pai, Júlia havia se alimentado apenas com biscoitos e viajado centenas de quilômetros por dia, todos os dias, o que a deixou exausta. Ainda de acordo com a polícia, a menina foi encontrada tossindo, com muita secreção e picadas de mosquito pelo corpo. Ela também estava sendo medicada pelo pai com amoxicilina, sem orientação médica.

 Anderson fugiu com Júlia no dia 10, percorreu 3,5 mil quilômetros e passou por nove cidades, durante 14 dias. Foto: Peu Ricardo/ Esp. DP
 Anderson fugiu com Júlia no dia 10, percorreu 3,5 mil quilômetros e passou por nove
 cidades durante 14 dias. Foto: Peu Ricardo/ Esp. DP 

Segundo um amigo da família, que não quis ser identificado, Júlia parou de falar no período em que esteve com o pai e ainda não voltou a dizer palavras que já conhecia. Também não está conseguindo sentar, como consequência do cansaço pelas longas viagens. De acordo com Gleide Ângelo, apesar do temperamento doce, Júlia demonstra desconforto ao ter que entrar em algum carro. 

Na conversa com a delegada Gleide Ângelo, Janderson disse que não havia se arrependido e repetiu que tinha o direito de viver com a filha. Para a polícia, a fuga com a criança seria uma tentativa de se vingar da funcionária pública Cláudia Cavalvanti, 42 anos, mãe de Júlia, que ele acusa de dificultar a relação com a filha. Janderson estava proibido de se aproximar de Cláudia por uma medida protetiva, depois te ter ameaçado matá-la e matar a própria filha.
Delegada Gleide Ângelo, a mãe Cláudia Cavalvanti e a pequena Júlia, que foi encontrada pela polícia em Macapá com o pai. Foto: Peu Ricardo/ Esp. DP
Delegada Gleide Ângelo, a mãe Cláudia Cavalvanti e a
pequena Júlia, que foi encontrada pela polícia em
Macapá com o pai. Foto: Peu Ricardo/ Esp. DP

Abandono na gravidez  
Jardeson e Cláudia namoravam quando ela, 13 anos mais velha, descobriu que estava grávida. Segundo amigos de Cláudia, ele não se considerava pronto para ser pai e viajou nos primeiros meses da gestação para a Europa, onde fez um circuito de bicicleta. Só quando voltou ao Brasil, com a filha já nascida, Janderson conheceu Júlia, por quem disse ter se apaixonado. 

Com a reaproximação, Janderson e Cláudia resolveram morar juntos, o que durou cerca de sete meses. “Nesse tempo eles perceberam que não dava certo ficarem juntos e Cláudia decidiu separar. Foi aí que ele a ameaçou matar as duas”, contou um amigo da família, que não quis ser identificado. 

Autorização para passeio 
Diante das ameaças e da judicialização da relação de pai e filha, Janderson foi proibido de ficar com Júlia sozinho e as visitas passaram a ser acompanhadas por outra pessoa. Somente recentemente ele havia conseguido o direito de ficar com a filha sozinho. Ele poderia pegar a criança uma vez na semana, nos fins de semana, e ficar com ela até o final da tarde, quando teria que deixá-la no endereço onde a criança mora com a mãe, em Olinda. No dia 10 de julho Janderson visitava Júlia pela segunda vez com autorização de levá-la. 

Segundo amigos da família, Janderson perdeu o pai ainda jovem e não se recompôs emocionalmente desde então. Com uma situação financeira tranquila, por causa da herança deixada pelo pai, ele teria ficado “mimado”, segundo os relatos feitos ao Diario. “É como se ele achasse mesmo que grana compra tudo”, disse um amigo, que não quis ser identificado. 

Formado em engenharia, Janderson já havia passado pelo Exército e atualmente não tinha vínculos de trabalho em Pernambuco. Segundo testemunhas, ele vivia do dinheiro de aplicações em imóveis deixados pelo pai. 

"Tratado como bandido” 
Irmão de Janderson, Jefferson Alencar mora em Manaus, onde nasceram, e desembarcou no Recife para apoiar a família. Nesta segunda-feira ele e a esposa foram os únicos da família paterna de Júlia a ir ao aeroporto.  Em entrevista ao Diario, ele disse que o irmão “tem motivos” para ter fugido com a filha e disse que a versão de Janderson ainda será noticiada, embora afirme não concordar com o irmão. 

“Vocês ouviram o lado da Cláudia e têm que ouvir o dele. Ele vai falar os motivos, mas tem muita história por trás”, contou Jefferson que repetiu inúmeras vezes que o irmão não é o bandido que estão pintando. “Fui criado com ele, meu irmão não é bandido. Estão tratando ele como bandido”, reclamou.

Direto para o Cotel 
Janderson Alencar chegou no Recife no mesmo voo que trouxe Júlia e a polícia pernambucana de Brasília. Chegou a ver a filha no aeroporto, mas não teve contato com ela. No Recife, desceu pela porta traseira da aeronave e foi direto para o carro da polícia, que o levou para o IML e, em seguida, para o Centro de Observação e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima. 

Ele responderá pelo crime previsto no artigo 237 do Estatuto da Criança e do Adolescente: subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com o fim de colocação em lar substituto. A pena pode chegar a dois anos de prisão. A delegada Gleide Ângelo disse que vai analisar o caso para ver se outros crimes ainda podem ser associados. 


 Por/Por: Maira Baracho
Diario de Pernambuco

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