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terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Assassino de Décio Sá muda depoimento e inocenta envolvidos


Jhonathan Silva no 2º dia de julgamento do caso Décio Sá (Foto: Clarissa Carramilo/G1 Maranhão)

O assassino confesso do jornalista Décio Sá, Jhonathan de Sousa Silva, disse, em depoimento prestado em julgamento, nesta terça-feira (4), no Fórum Desembargador Sarney Costa, em São Luís, que foi Marco Antônio, conhecido Neguinho Barrão, que o contratou e dirigiu a motocicleta que deu fuga a ele na noite em que ele matou a vítima a tiros. O homem apontado como pelo pistoleiro como mandante e motorista, segundo ele, estaria morto.
 
Instigado pelos promotores, o assassino chegou a se exaltar em alguns momentos do interrogatório. Primeiro ele confirmou o depoimento prestado à polícia, mas depois voltou atrás. "Tudo não. Não, eu confirmo. Eu confirmei o que disse, mas não foi o que realmente aconteceu. Neguinho trabalha de cobrador pro Bolinha. Foi ele quem me contratou.", revelou.
 
Ao centro, Silvana Sá, viúva de Décio Sá (Foto: Clarissa Carramilo/G1 Maranhão)
Ao centro, Silvana Sá, viúva de Décio Sá
(Foto: Clarissa Carramilo/G1 Maranhão)
 
O réu confessou que acertou o valor de R$ 100 mil pela morte de Décio, mas nunca recebeu do dinheiro. "Matei porque tinha acabado de sair da prisão, tava sem dinheiro e precisava alimentar meus filhos", declarou. A esposa de Décio, Silvana Sá, que acompanha o julgamento, riu ironicamente.

“Tô arrependido por causa do meu sofrimento e por ver minha família sofrendo por minha causa. Eles [família da vítima] sofrem sim, mas minha família também sofre. Eu não posso pegar e dar a vida dele de volta. Eu tô muito arrependido e nada do que eu disser aqui vai diminuir a dor que a família sente”. disse Jhonathan.

O promotor Rodolfo Ribeiro contestou as declarações de Jhonathan, e afirmou que o réu não está colaborando com a Justiça. "Não faz sentido que o senhor saia daqui, vá para outra cidade, sem dinheiro, como o senhor disse que estava quando aceitou matar Décio por R4 100 mil, se desloque para outra cidade e se hospede. É por isso que eu falo que se o senhor estivesse arrependido de fato, o senhor falaria agora. Quem está arrependido mostra arrependimento contribuindo. O senhor não está arrependido.", ressaltou.
 
Segundo o pistoleiro, ele só disse que foi Júnior Bolinha porque estava com muita raiva por não ter recebido o pagamento. "Depois de tudo que aconteceu, eu fiquei sabendo que não era ele. Na época do depoimento, eu tava com muita raiva porque eu não recebi o dinheiro e só me encrenquei com a Justiça e, de acordo com a raiva que senti dele, fiz essa declaração no nome dele. Se eu tivesse certeza que ele é culpado, eu lhe falava aqui. Mas eu não posso falar isso. Eu estava com muita raiva e queria encontrar um culpado", disse.
 
Jhonathan disse que só deu as declarações porque sofreu pressão psicológica da polícia. "Eu tava sob pressão psicológica todos os dias. O depoimento tá muito incoerente. Eu sempre falava uma coisa, falava outra. Tinha hora que eu não sabia nem o que eu tava dizendo. Fui pressionado, minha família foi ameaçada. Eles queriam que eu confirmasse uma linha de investigação que eles tinham sobre empresários. Muitas coisas eu disse depois que aconteceu, mas muita coisa eu só fiz assinar", garantiu.
 
O assassino disse, ainda, que não conhecia nenhum dos outros envolvidos os quais já tinha delatado antes. "Eu não disse, não saiu da minha cabeça. Eu não conhecia essas pessoas, Raimundo Cutrim, não sabia do envolvimento dele com nada. Não conhecia Glaucio, não conhecia Bochecha, não conhecia ninguém. Tem isso que tinha partido deles o interesse de matar o tal do Décio", falou.

Primeiro dia


 Sete das 11 testemunhas arroladas no total prestaram depoimento no primeiro dia. Pela manhã, foi interrogada a irmã de criação de Marcos Bruno, que não foi obrigada a fazer juramento e falou apenas como informante, já que ela também é esposa de Shirliano de Oliveira, o Balão, acusado de auxiliar o assassino a planejar o crime. Também prestaram depoimento dois integrantes de um grupo evangélico que fazia culto em uma duna na Praia de São Marcos, na noite do crime. Eles disseram ter visto o assassino fugindo pelo local.
 
À tarde, um vigilante e um garçom do bar onde Décio Sá foi morto também prestaram depoimento. Todos mantiveram suas versões sobre reconhecer Jhonathan Silva, mas nenhum soube informar se era mesmo Marcos Bruno quem conduzia a motocicleta que deu fuga ao pistoleiro, já que o motorista estava de capacete.
 
Fase de instrução
Nos meses de maio e junho do ano passado, após as audiências da fase de instrução, ficou decidido que 11 dos 12 acusados do assassinato do jornalista serão levados a júri popular. Jhonathan Silva está preso em um presídio federal de segurança máxima em Campo Grande, MS, é assassino confesso do jornalista. Já Marcos Bruno, que está preso em São Luís, é acusado de ter pilotado a motocicleta que deu fuga ao pistoleiro, mas nega o crime.
 
Também serão julgados por representantes da sociedade civil Shirliano de Oliveira (foragido), o Balão, acusado de auxiliar o assassino; José Raimundo Sales Chaves júnior, o Júnior Bolinha (preso no Centro de Triagem do Complexo Penitenciário de Pedrinhas), acusado de intermediar a contratação do pistoleiro; os policiais Alcides Nunes da Silva e Joel Durans Medeiros (em liberdade), acusados de participar de reuniões para tratar do assassinato de Décio Sá e do empresário Fábio Brasil; Elker Farias Veloso, acusado de auxiliar o assassino e a quadrilha tanto no assassino de Décio Sá quanto no de Fábio Brasil (preso em um presídio estadual em Contagem, MG); o capitão da PM, Fábio Aurélio Saraiva Silva, o Fábio Capita (em liberdade), acusado de fornecer a arma do crime; Fábio Aurélio do Lago e Silva, o Bochecha (em liberdade), acusado de hospedar o assassino após o crime; e os empresários Gláucio Alencar Pontes Carvalho e José de Alencar Miranda Carvalho, pai de Gláucio (presos no Comando Geral  da Polícia Militar), acusados de mandar matar Décio Sá.
 
O advogado Ronaldo Ribeiro, que trabalhava para os mandantes Gláucio Alencar e José Miranda, foi excluído do júri por falta de provas. No entanto, o promotor Haroldo de Brito disse, na segunda-feira (3), que a polícia e o Ministério Público já possuem provas contra o acusado e devem indiciá-lo.
 
Noite do crime
 Décio Sá foi assassinado com seis tiros por volta de 23h de segunda-feira, 23 de abril de 2012, quando estava em um bar na Avenida Litorânea, na orla marítima de São Luís - um dos principais pontos de turismo e lazer da capital maranhense.
 
O jornalista, que era repórter da editoria de política do jornal O Estado do Maranhão há 17 anos, também publicava conteúdo independente por meio do Blog do Décio, um dos blogs mais acessados do estado na época.
 
Segundo o inquérito policial, Décio Sá deixou a redação por volta de 22h, pegou o carro e foi até o bar, onde teria pedido uma bebida e uma porção de caranguejo. Ele estava à espera de dois amigos e falava ao celular quando foi surpreendido pelo pistoleiro Jhonathan de Sousa Silva, que o atingiu com cinco tiros, três no tórax e dois na cabeça.
 
De acordo com informações da polícia, o jornalista foi morto porque teria publicado, no Blog do Décio, reportagem sobre o assassinato do empresário Fábio Brasil, o Júnior Foca, envolvido em uma trama de pistolagem com os integrantes de uma quadrilha encabeçada por Glaucio Alencar e José Miranda, suspeitos de praticar agiotagem junto a mais de 40 prefeituras no estado. Ele tinha 42 anos, era casado e tinha uma filha. Sua esposa, Silvana Sá, estava grávida quando o marido foi assassinado.

Fonte/Do G1 MA

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