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terça-feira, 26 de novembro de 2013

Papa faz apelo pela renovação da Igreja no 1º documento de seu pontificado




Papa Francisco após audiência geral na Praça de São Pedro em 20 de novembro
Foto: STEFANO RELLANDINI / REUTERS
Papa Francisco após audiência geral na Praça de São Pedro em 20 de novembro
STEFANO RELLANDINI / REUTERS


CIDADE DO VATICANO - O Papa Francisco divulgou nesta terça-feira um documento no qual delineia a missão de seu pontificado, detalhando como a Igreja Católica e o próprio papado devem ser reformados para criar uma instituição mais missionária e misericordiosa, com atenção especial aos pobres. O texto - uma espécie de programa do pontificado - é o primeiro grande trabalho que Francisco assina sozinho. 

No documento de 84 páginas, conhecido como exortação apostólica, o Pontífice argentino faz um apelo pela renovação da Igreja Católica Romana e ataca o capitalismo irrestrito como “uma nova tirania”, instando líderes globais a combaterem a pobreza e a desigualdade.

“A atividade missionária é ainda hoje o maior desafio para a Igreja e a causa missionária deve ser a primeira”, diz o documento. “É vital que hoje a Igreja anuncie o Evangelho a todos, em todos os lugares, o tempo todo, sem demora, e sem medo”.

Chamada de “Evangelii Gaudium” (A alegria do Evangelho), a exortação é apresentada em estilo de pregação simples e acolhedora, distinta dos escritos mais acadêmicos de antigos papas. Francisco afirma que a renovação da Igreja não pode ser adiada e que o Vaticano e sua hierarquia arraigada “também precisam de ouvir o apelo à conversão pastoral”.

A alegria - palavra do título - é vista em vários fragmentos, porque Francisco não quer evangelizadores com cara de “funeral”, “tristes, desanimados, impacientes ou ansiosos”, mas pessoas “cujas vidas irradiam o fervor de quem recebeu a alegria de Cristo”.
“A alegria do evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus”, inicia a Exortação Apostólica.

O Papa pede uma Igreja com vocação missionária, não obcecada “à doutrina moral”. E que se concentre especialmente em sair ao encontro dos pobres, doentes e menos favorecidos. Ele também mostra seu desejo pela descentralização, que a instituição católica não tenha pretensões de obter o monopólio das soluções de problemas, e não se espera do Papa “a palavra definitiva sobre todas as questões que afetam a Igreja e o mundo”.

“A centralização excessiva, ao invés de ajudar , complica a vida da Igreja e do seu dinamismo missionário”, escreve. “Meu dever como bispo de Roma estar aberto a sugestões que orientem o exercício do meu ministério para que seja mais fiel ao significado que Jesus queria dar e as necessidades atuais da evangelização”, disse ele, falando no sentido de dar mais poder às conferências episcopais.

O “Evangelii Gaudium“ é sobretudo um chamado ao resgate da mensagem essencial do cristianismo. Francisco pede aos bispos que deem um passo atrás e nem sempre estejam à frente do rebanho. Ele faz um apelo pela implementação de “mecanismos participativos” e de outras formas de diálogo com os fiéis, “com o desejo de ouvir a todos e não apenas a alguns que acariciam seus ouvidos.”

 Defende uma igreja que seja consciente de que os “preceitos dados por Cristo são pouquíssimos”, e que não tenha medo de revisar costumes e normas que foram adotadas ao longo dos séculos.
“Há normas e preceitos eclesiásticos que podem ter sido eficazes em outras épocas, mas já não têm mais a mesma força educativa”, afirma.

O Pontífice reiterou declarações anteriores de que a Igreja não pode ordenar mulheres ou aceitar o aborto. O sacerdócio só para homens, diz ele, “não é uma questão aberta à discussão”, mas as mulheres devem ter mais influência na liderança da Igreja.

O documento é resultado de uma reunião com bispos de todo o mundo em 2012, quando discutiram como anunciar o Evangelho no mundo atual. Em julho, o Vaticano lançou uma encíclica de 84 páginas assinada por Francisco e Bento XVI - “Lumen Fidei” (A luz da fé ) -, mas o texto foi mais escrito por Joseph Ratzinger.

Fonte/O Globo


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