O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, decretou, na tarde desta quarta-feira (25), situação de emergência em São Francisco do Sul, no Norte de Santa Catarina, em função do incêndio em uma carga de fertilizante. Em coletiva na tarde desta quarta, o comandante-geral do Corpo de Bombeiros Militar do estado, coronel Marcos de Oliveira, explicou como está sendo feito o combate ao incêndio e a evacuação dos moradores em um raio de dois quilômetros do foco da fumaça.
Um armazém de fertilizantes pegou fogo no final da noite desta terça-feira (24) na BR-280, em São Francisco do Sul e moradores de pelo menos seis bairros precisaram deixar as casas. Segundo os Bombeiros Voluntários, o incêndio começou por volta das 23h, resultando em uma fumaça alaranjada que, se inalada, causa irritação nas mucosas.
Conforme o governo do estado, até as 17h25, 380 pessoas estavam desabrigadas ou desalojadas e a área do incêndio estava isolada. A fumaça seguia para o mar e, segundo os bombeiros, o fenômeno vai demorar mais 24 horas para se dissipar. A Polícia Militar fazia ronda na cidade e 200 bombeiros estavam trabalhando no local e só vão parar quando terminar o incêndio.
"A área está bem protegida, ninguém entra, a não ser que seja bombeiro e que tenha equipamento próprio para garantir que o trabalho seja seguro", informou o comandante-geral sobre a situação do incêndio.
Coletiva ocorreu na Prefeitura de São Francisco do
Sul (Foto: Corpo de Bombeiros SC/Divulgação)
O coronel explicou que "nós fizemos toda a parte agora de trabalho de remoção do telhado porque removendo o telhado você consegue fazer uma ventilação vertical natural que vai facilitar bastante a questão visual do ambiente. E depois disso, continuar o trabalho que já havia sido feito de remoção do material interno com retroescavadeiras". Para combater o incêndio, é preciso encharcar o material que está em combustão para que a temperatura diminua.
"A estratégia foi essa, remover contêiners, abrir o teto, continuar o combate com encharcamento e, quando conseguirmos chegar no foco do incêndio, vamos mudar a estratégia para um ataque direto", explicou o coronel. Segundo ele, será usado "um jato sólido para penetrar, então ele trabalha por penetração até que a gente consiga debelar completamente e não haja nenhum risco".
Em relação aos moradores da cidade e o contato com a área do incêndio, o coronel afirmou que o "importante é não deixar quem está nas proximidades e que não é bombeiro, portanto não tem equipamento técnico para proteção". Sobre a fumaça, ele disse que "se for inalada ou ingerida, ela produz efeitos nocivos à saúde. No entanto, você não estando presente, estando em um raio de afastamento como a gente prevê de 800 metros, você está seguro".
Foi feito um trabalho de remoção das pessoas desde a madrugada, explicou o comandante-geral. "A recomendação técnica é afastar-se em um raio de 800 metros, a gente estendeu isso para dois quilômetros", disse. O coronel também afirmou que, posteriomente, será feito um trabalho de acompanhamento "para ver qual é o grau de toxicidade e se isso representa algum malefício para a questão ambiental".
A fumaça
Em comunicado divulgado no início da tarde desta quarta-feira (25), o secretário de Estado da Defesa Civil, Milton Hobus, havia informado que a fumaça não era tóxica. Porém, durante a tarde ele voltou atrás e reconheceu que a fumaça proveniente do incêndio no depósito com carga de fertilizante é "levemente tóxica" e "moderadamente perigosa".
Ele explicou que houve um "incêndio químico", embora a causa do incidente ainda seja desconhecida. "O fertilizante entrou em uma reação química e produziu uma fumaça, como um fogo sem chamas", declarou. Conforme Hobus, o laudo da empresa exportadora dos fertilizantes apontou que o produto continha nitrato de amônia, amônia com hidrogênio e um pequeno percentual de potássio. Apesar da entrevista do secretário, o governo divulgou nova nota às 17h13 em que não faz nenhuma menção a toxidade da fumaça.
De acordo com o professor Nito Angelo Debacher, doutor em Química e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o nitrato de amônia ao entrar em contato com o calor gera o gás amônia, que é tóxico. "Se tem amônia no gás, com certeza é tóxico. A fumaça estava muito densa. Eu não recomendaria ninguém a respirar aquilo", disse ele, em entrevista ao G1 no começo da tarde, contrariando a afirmação anterior do governo.
Efeitos da fumaça
A supervisora do Centro de Informações Toxicológicas, Marlene Zannin, explica que a dispersão das substâncias geradas pela queima do nitrato de amônio, diafosfato de amônia e cloreto de potássio, provoca tosse, pele avermelhada, olhos lacrimejantes e doloridos, além de congestionamento das vias orais.
Segundo o Hospital Nossa Senhora das Graças, 121 pessoas foram atendidas com sintomas de intoxicação até as 18h15 desta quarta (25). Os principais sintomas das pessoas que foram atendidas são irritação na garganta, nariz e olhos, náusea e vômito. Nenhuma ficou internada.
Consultado pelo G1, o otorrinolaringologista Gladson Porto Barreto afirmou que a fumaça causa irritação na mucosa. "Se for inalada em quantidade, a fumaça causa queimaduras e irritação. A intoxicação pode causar insuficiência respiratória", explicou o médico.
Bloqueio na BR-280
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), devido ao isolamento à área do incêndio, foi feito um bloqueio na entrada da cidade, no km 4 da BR-280, por volta das 14h30 desta quarta (25). Não há barreiras na BR-101.
Na manhã desta quarta (25), havia um bloqueio no km 20 da BR-280 pelo mesmo motivo. Porém, ele foi desativado.
Fonte/Do G1 SC
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